Ódio e Nojo

Editorial por Revista Badaró

“Conhecemos o caminho maldito. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania, onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América Latina”. Com esta frase, Ulysses Guimarães selava o que deveria ser o enterro de um regime que torturou inclusive crianças, matou opositores, desviou milhões de dólares em obras faraônicas, cometeu o genocídio de mais de 8 mil indígenas e aumentou o abismo social entre ricos e pobres no Brasil. No entanto, os mortos-vivos da ditadura militar-empresarial nunca deixaram de cercar a vida política brasileira. 

Eles se mantiveram, inclusive, pela própria Carta de 1988, aquela que Ulysses erguia enquanto lançava seu discurso visceral. Situada num elo entre o liberalismo político e a social-democracia, a chamada “Constituição Cidadã” exagerou na tolerância.

Anistiou torturadores e não propôs a reforma das Forças Armadas, mantendo em seus cargos aqueles que, ao longo de 21 anos, revezaram-se nas práticas dos crimes que inspiram, como citou o político paulista, ódio e nojo.

Foi essa brecha que permitiu figuras odiosas e nojentas a não apenas ocupar, mas se manter no poder e, hoje, confrontar aquela mesma Constituição. O excesso de tolerância da Carta Magna fez com que o mais medíocre dos homens, militar fracassado, parlamentar invisível, um nada, criasse um clã familiar de políticos de extrema-direita, porta-vozes dos discursos mais desprezíveis do senso comum, e se alçasse à Presidência da República sendo a voz de milhões de medíocres orgulhosos de sua mediocridade, ou de oportunistas hoje arrependidos.

A Badaró acredita que a Constituição do Brasil merece críticas. Mas não as que são feitas por aqueles que foram às ruas, no feriado de sete de setembro, celebrar a morte e pedir o retorno do regime de sangue. A Carta de 1988 peca justamente por faltar, a esta parcela da população, ódio e nojo.

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