Rolê No Bueiro: qual o lugar da dança em Mato Grosso do Sul?

“No Bueiro” é o lugar da dança sul-mato-grossense? “No Bueiro” é onde querem inserir os trabalhadores da cultura deste estado? Ficam abertas tais perguntas e, enquanto isso, dancemos No Bueiro e façamos ritmos e resistências

Por Maria Fernanda Figueiró e Vitória Regina

A história da dança em Mato Grosso do Sul envolve inúmeros nomes e experiências que conjuram também com o desenvolvimento histórico do estado, afinal, é pela cultura que se constrói a realidade e a identidade de um povo. Não há dúvidas, então, de que a arte sempre se presentificou como um saber que pode ser instrumentalizado para diferentes fins, dentro das relações complexas envolvidas nos contextos sociais e históricos em que se manifestam, podendo inclusive, através de sua diversidade de linguagens e expressões, ser uma ferramenta de exploração.

 Pensar especificamente na dança sul mato-grossense é retomar uma outra trama histórica entrecortada por diferentes peças que nos auxiliam a compreender os contextos plurais atuais. As potencialidades expressadas pelas diversas modalidades de dança que surgiram e se desenvolveram em Mato Grosso do Sul indicam uma realidade em que essas buscam por mais reconhecimento, dentro de um estado que talvez ainda subestime as múltiplas e potentes formas que este pode dançar.

 A luta dos profissionais da dança do estado sempre foi pela garantia dos seus direitos, pelo reconhecimento da importância da categoria para o corpus social, e pela busca da transformação da realidade através da dança e de seu ensino. Por isso, questionarmos sobre quais companhias ou artistas da dança nós conhecemos e acompanhamos no nosso dia a dia, ou, dentro das possibilidades, qual foi a última vez que fomos prestigiar um espetáculo e/ou performance de dança se faz tão preciso quanto sabermos quais músicos, artistas plásticos, atores e cineastas compuseram e compõem nosso discurso enquanto estado, afinal, tais significantes não se desassociam ao refletirmos sobre como e por que, historicamente, chegamos até aqui. 

 

Arte: Vitória Regina

Foi pensando nestas questões que o Projeto Nonada e InChrise criaram o Rolê No Bueiro, um evento cultural que, instigado em dar uma resposta às provocações citadas, pretende inserir a dança como atração principal nos eventos noturnos de Campo Grande, promovendo a expressão dos pesquisadores e trabalhadores da área em contextos distintos de sua costumeira aparição. Portanto, o evento, que possui como intuito sua circulação em diferentes bares da cidade conforme cada edição, é caracterizado por seu anseio de focalizar maior visibilidade nas diferentes modalidades e vertentes de dança que seus representantes executam, de forma a incentivar a criação de um público de dança mais diversificado e plural. 

A escolha do nome do evento se estabelece, então, como uma provocação a este recorte que os artistas proponentes observam acerca da forma marginalizada com que a dança é tratada, se comparada com outras vertentes artísticas no estado, um paradoxo manifesto ao se lembrar da força que a categoria da dança tem no mesmo local, e da importância histórica desempenhada pela mesma na consolidação de uma identidade cultural. A primeira edição do evento aconteceu no Aporé Espaço Cultural, no dia 11 de setembro de 2022 e, com a casa cheia, contou com oito apresentações de dança de artistas de diferentes vertentes e mais dois DJs convidados, que aqueceram a pista entre cada apresentação. 

Visando a rotatividade, a segunda edição ocorrerá no próximo domingo, 11 de dezembro, no Capivas Cervejaria – e todo valor arrecadado na entrada será destinado aos artistas participantes. “No Bueiro” é o lugar concernente para um prisma de potencialidades artísticas que, cotidianamente, resistem a todo esforço histórico para desmobilização de seus trabalhos? “No Bueiro” é o lugar da dança sul-mato-grossense? “No Bueiro” é onde querem inserir os trabalhadores da cultura deste estado? Ficam abertas tais perguntas e, enquanto isso, dancemos No Bueiro e façamos ritmos e resistências compartilhando do poder da arte em busca de emancipação.

Maria Fernanda Figueiró

Acadêmica de Psicologia pela UFMS, atua há mais de 16 anos na área da dança e atualmente é intérprete criadora das companhias de dança Cia do Mato e Ginga.

Vitória Regina

Marxista e psicóloga. Debate política, psicologia e cultura.

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