Quem é Capitão Contar, candidato símbolo da hipocrisia ultraconservadora

Candidato ao governo de Mato Grosso do Sul subiu nas intenções de voto após apoio de genocida e segue cartilha extremista com pautas morais e suspeitas de corrupção

Por Adrian Albuquerque (texto), Guilherme Correia (texto) e Norberto Liberator (arte)

Após ter crescimento expressivo nas intenções de votos ao ser mencionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), durante debate eleitoral, o candidato ao governo de Mato Grosso do Sul Capitão Contar (PRTB) – que se posicionava entre os últimos nas pesquisas – ficou em primeiro na disputa, com 27% dos votos válidos, seguido por Eduardo Riedel (PSDB), com 24%.

Ainda que ambos tenham declarado apoio a Bolsonaro – Riedel, inclusive, é aliado da senadora eleita Tereza Cristina (PP) –, o militar aposentado do Exército, de 38 anos, possui algumas das mesmas posições extremistas e ultraconservadoras de Bolsonaro e práticas que envolvem suspeitas de corrupção.

Em seu plano de governo, ele tenta esconder questões que defende como parlamentar, como a proibição nas escolas de danças que, segundo ele, podem promover a sexualização precoce de crianças. Além disso, Contar já defendeu publicamente o uso da hidroxicloroquina durante a pandemia de Covid-19 e é autor do projeto de lei que proíbe a exigência de comprovante de vacinação em escolas.

O militar também é autor do projeto que proíbe o transporte alternativo no estado e em 2019 prometeu “tirar da geladeira” o projeto da Escola Sem Partido, que visa censurar professores dentro da sala de aula.

Senhor das armas

Contar é defensor ferrenho da flexibilização de CACs (Certificados de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) – medida que facilitou a aquisição legal de armas pelo crime organizado e aumentou em 24% o número de assassinatos por armas de fogo de mão

 

 
 
 
 
 
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Alvo da Operação Ópla, desencadeada no dia 14 deste mês pela Polícia Federal, o clube de tiro Golden Boar, localizado em Maracaju, é suspeito de fornecer armas para o crime organizado. O estabelecimento segue funcionando normalmente e não só para os alunos armamentistas, obviamente inclinados a apoiar Bolsonaro, mas também pela eleição de Contar, conforme publicação feita na página do estabelecimento.

 

 
 
 
 
 
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O deputado e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro em jantar com Rodrigo Donovan (proprietário do clube) e Marcos Pollon, recém-eleito deputado federal pelo PL

 

Vice problemático

Humberto Figueiró (PRTB) é o vice da chapa de Contar e o maior doador para a campanha (R$160 mil). Por dever mais de R$ 45 mil em pensão alimentícia, ele chegou a ser preso em 2008 em Terenos, município a 31 quilômetros da capital.

O mandado foi expedido pela Justiça de Presidente Prudente (SP), onde tramitou o processo de execução de alimentos. O candidato entrou na delegacia de Polícia Civil de Terenos às 14h51 e foi solto à meia-noite do dia seguinte, primeiro de abril de 2008, após pagamento do valor.

Figueiró também foi acusado de golpe em briga por fortuna de família, que o acusa de burlar a partilha de bens e nunca ter dado nenhum centavo a familiares, após a morte do pai.

“Toma lá dá cá” 

Em vídeo de campanha política, Contar afirmou não fazer parte de “toma lá dá cá” político. Entretanto, recebeu apoios de figuras carimbadas na política sul-mato-grossense.

O ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD), acusado de assediar mais de 10 mulheres no gabinete e o ex-governador André Puccinelli (MDB), preso duas vezes por corrupção, são algumas das figuras que se mostram alinhadas a Contar, bem como o pastor e ex-prefeito Gilmar Olarte, preso por corrupção e lavagem de dinheiro.

O próprio ex-capitão afirmou em entrevista à afiliada da Rede Globo, TV Morena, que “quando essas lideranças liberaram suas bases para nos apoiar em votos, isso é muito bem-vindo”.

Olarte, preso desde maio de 2021, afirmou apoiar Contar e disse que a esposa do candidato, Iara Diniz Contar (PRTB), foi “braço direito” durante a gestão municipal em Campo Grande.

Contratos milionários

A publicitária e empresária, aliás, tentou receber R$ 1,2 milhão usando documento falso na falso na Justiça para tentar se apropriar de empresa. Em ação de 2019, a Ricon Comércio de Produtos em Geral cobrou montante judicialmente através de Termo de Confissão de Dívida. Mas em sentença deste ano, ele foi considerado simulado.

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) fez inspeção presencial na prefeitura de Ribas do Rio Pardo em busca de documentos de contrato  milionário entre a administração municipal e a empresa Diniz Ação em Marketing Ltda, que tem como sócia-administradora Iara Diniz Contar, esposa do Capitão Renan Contar (PRTB), candidato ao governo de Mato Grosso do Sul.

A ordem para o trabalho in loco foi do conselheiro Jerson Domingos e publicada em 20 de maio. O contrato 131/2015 é de prestação de serviços nos setores de publicidade, marketing e propaganda. Segundo o TCE, a inspeção já foi realizada na prefeitura de Ribas do Rio Pardo. Entretanto, o relatório ainda não foi apresentado pela Divisão de Fiscalização.

O valor inicial do contrato de publicidade era de R$ 600 mil. Contudo, ao longo dos anos, a prefeitura fez oito termos aditivos. Conforme planilha elaborada pelo tribunal, o total final contratual chegou a R$ 2.580.708,33, no período entre 10 de novembro de 2015 e 10 de novembro de 2020.

Patrimônio

Na comparação com a receita declarada em 2018 à Justiça Eleitoral, Contar ficou 628% mais rico em quatro anos. Há quatro anos, quando foi eleito deputado estadual, o capitão aposentado declarou R$ 80 mil de patrimônio ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já neste ano, declarou R$ 583 mil de bens.

Entre os bens listados este ano, encontram-se três veículos, duas contas poupança que somam R$ 91 mil e outros créditos no valor de R$ 96 mil. Em 2018, Contar era dono apenas de uma motocicleta no valor de R$ 80 mil.

Apoio endinheirado

Apesar de defender uma imagem de “campanha pequena” que remeteria a uma luta entre Davi e Golias, Contar usufruiu do apoio de empresários milionários durante o curso das eleições.

Contar é publicamente apoiado pelo apresentador Carlos Massa, o Ratinho, que é próximo da esposa de Contar, dona de agência de publicidade que tem contratos publicitários milionários estrelando Ratinho, a DNZ.

O empresário catarinense Luciano Hang – mais conhecido como “Véio da Havan” –, acusado de agiotagem, sonegação e contrabando, conforme documento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e exposto em áudio sugerindo demissão de professores em Santa Catarina para não precisar pagar impostos, também declarou apoio a Contar.

Censura

A cartilha golpista é seguida à risca – Contar tentou derrubar pesquisa de intenção de voto do Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Ltda., em que teve intenção de voto menor que Riedel, mas obteve resposta negativa da Justiça Eleitoral.

Na representação, o jurídico do postulante alegou que a empresa responsável pela amostragem deixou de apresentar informações exigidas por lei, mas o juiz eleitoral José Eduardo Chemin Cury não reconheceu irregularidade e ainda chamou a atenção do candidato pela “falta de atenção”, destacando “a possibilidade de aplicação de multa por litigância de má-fé”, caso ação seja protocolada novamente por Contar mesmo sabendo que não há erro na pesquisa.

A Justiça Eleitoral mandou suspender a divulgação de duas pesquisas eleitorais, dos institutos Serpes e Real Time Big Data, por encontrar irregularidades nos levantamentos. Ambas mostram o candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul, Capitão Contar (PRTB), à frente de Eduardo Riedel (PSDB). As decisões, do desembargador Vladimir Abreu da Silva e juiz José Eduardo Chemin Cury, são do fim da manhã desta quarta-feira (19).

Antes disso, a defesa do candidato ao governo foi à Justiça Eleitoral pedir a retirada da matéria do site Campo Grande News intitulada “Esposa de Contar tenta cobrar R$ 1,2 milhão com documento falso” do ar, mas perdeu.

Reafirmando que a liberdade de imprensa é direito constitucional, o desembargador Vladimir Abreu da Silva confirmou o veto à tentativa de censura praticada pela campanha. O magistrado concordou com parecer da Procuradoria Regional Eleitoral, que opinou “pelo não provimento da representação”, argumentando principalmente que não havia mentira publicada pelo jornal.

A censura, inclusive, só é válida para um dos lados – a própria Justiça Eleitoral determinou que Contar mostrasse a neutralidade de Bolsonaro em relação à disputa sul-mato-grossense, fato que foi desrespeitado várias vezes.

Caixa 2

O partido Cidadania denunciou caixa 2 na campanha de Contar – a campanha foi acusada de fraudar contas e não contabilizar receitas. O Ministério Público Eleitoral (MPE) recebeu o pedido de investigação.

No documento, foram elencados pontos que consideram que a legislação eleitoral não foi cumprida. Por isso, a representação pediu a responsabilização de Contar e do vice, Beto Figueiró (PRTB), no âmbito penal, bem como adoção de medidas cautelares para evitar a irregularidade nas prestações de contas.

No primeiro turno, a chapa do PRTB declarou ter recebido R$ 518.866,99 de doações para a campanha. O Cidadania critica omissões na prestação de contas e até “falsidade ideológica eleitoral” relacionada a imóvel nos altos da avenida Afonso Pena, onde foi montado o comitê “QG do Capitão Contar”.

Outro ponto na prestação de contas parcial do adversário no segundo turno foi o pagamento não declarado da militância que trabalhou pela campanha de Contar, com números díspares nas despesas lançadas como “despesas com pessoal”.

Além da falta de lançamento de gastos eleitorais referentes à produção de programas de rádio, televisão ou vídeo, foi pedido que se averiguasse despesa declarada para contratação de serviço de contabilidade e advocacia. Contar negou as acusações e disse se tratar de uma denúncia com fins políticos.

MS entre dois bolsonaristas

Ainda que defenda pautas neoliberais e em favor do agronegócio, Eduardo Riedel chegou a defender publicamente compromissos sociais, redução de impostos e até defesa do bioma do Pantanal – ainda que de maneira tecnocrata. Já Contar, que se esconde atrás de um plano de governo genérico e superficial, faltou a três debates políticos e à sabatina da Folha de São Paulo.

Num cenário que desenha a vitória de Lula no dia 30, a vitória de Riedel – bolsonarista de ocasião por oportunismo eleitoral – pode significar um governo mais conciliador e com menos embates com o poder executivo. O mesmo não se pode esperar de Contar, bolsonarista raiz.

Adrian Albuquerque

Não-binárie, jornalista, videomaker, sucinto e entusiasta de alguns filmes. Diretora do documentário “Isto não é uma entrevista”.

Guilherme Correia

Jornalista. Entusiasta de muitas coisas, do futebol ao audiovisual. Interessado em educação, cultura e pautas sociais.

Norberto Liberator

Jornalista, ilustrador e quadrinista. Interessado em política, meio ambiente, artes e esportes.

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