Muito além de Bolsotrump: conheça 11 líderes da ultra-direita

Por Norberto Liberator
Colaborou Leopoldo Neto

Tempos de crise na democracia liberal costumam dar brecha a movimentos populistas de direita. A descrença popular nas instituições, na primeira metade do século XXI, não é um fenômeno isolado do Brasil e se estende por vários países.

Especificamente na Europa, o Brexit abriu precedentes para que diversos políticos e partidos se posicionassem a favor de retirar seus respectivos países da União Europeia, chamada de órgão “globalista” no jargão neoconservador (conhecidos pela sigla neocon). As eleições de Rodrigo Duterte (Filipinas), Donald Trump (Estados Unidos) e Jair Bolsonaro (Brasil) adicionaram gasolina ao discurso de conservadores autoproclamados como “antissistema” – ou alt-right, abreviação em inglês para “direita alternativa”.

Os novos líderes não são necessariamente militares que organizam majestosas marchas como Mussolini e Franco, nem declaradamente antissemitas como Hitler. Inclusive, muitos têm uma estranha fixação por Israel. Mas a nova extrema-direita guarda em si a obsessão com o “inimigo externo”, ainda que estes já não sejam sempre os mesmos do século passado – em alguns casos até o são.

O papel de indesejável do judeu foi substituído pelo muçulmano, eleito como ameaça à civilização ocidental. Ambientalismo? Mentiras inventadas para atrapalhar o desenvolvimento. Imigração? Só dos qualificados, de preferência brancos e cristãos. Diversidade sexual? Ataque à moral e aos bons costumes.

O avanço tem suas particularidades em cada local, porém nos últimos anos os líderes da nova direita têm se articulado como um movimento internacional de cooperação. E você precisa saber quem são eles.

1 – Steve Bannon

A ampla utilização de termos como fake news e ‘pós-verdade’ deve-se principalmente a este homem. É o maior estrategista político da alt-right no mundo. Foi o fundador da Cambridge Analytica, empresa que esteve no epicentro do escândalo de vazamento de dados no Facebook. Bannon teria utilizado as informações de usuários, coletadas por meio de aplicativos dentro da rede social, para direcionar conteúdos por meio de disparos de mensagens pelo WhatsApp. Ex-assessor do presidente Donald Trump, abandonou o governo para fundar o The Movement, uma rede de articulação da direita “antissistema” pelo mundo.

2 – Viktor Orbán

Possivelmente o que há mais tempo conseguiu alçar voos altos. Primeiro-ministro da Hungria de 1998 a 2002, voltou ao cargo em 2010 e permanece desde então. Atualmente, acumula poderes que põem em xeque a validade da democracia húngara, já que conseguiu aprovar leis que lhe dão o controle sobre a mídia e o Judiciário. Recentemente, fez com que o bilionário húngaro George Soros, favorito das teorias de conspiração, fechasse as sedes da Universidade Centro-Europeia – de sua propriedade – no país. É líder do Fidesz, a União Cívica Húngara, partido conservador e anti-imigração.

Retrato ilustrado de Marine Le Pen

3 – Marine Le Pen

A líder do partido “Frente Nacional”, da França, é uma das figuras mais conhecidas dentre as lideranças da “nova direita”. Suas principais bandeiras são a saída da União Europeia e a rigidez nas políticas de migração. Filha de Jean-Marie Le Pen, famoso por suas posições extremistas, acabou por se afastar politicamente do pai em 2015, quando este afirmou que as câmaras de gás utilizadas durante o Holocausto eram apenas um “detalhe” – o que poderia atrapalhar a campanha da filha nas eleições à Presidência. Na ocasião, Jean-Marie Le Pen foi expulso da Frente Nacional. Em 2017, Marine chegou ao 2º turno e foi derrotada por Emmanuel Macron com 66,10% dos votos.

Retrato ilustrado de Matteo Salvini

4 – Matteo Salvini

Principal liderança da Lega (“Liga”, em português), partido contrário à União Europeia e anti-imigração, acumulou as funções de vice-primeiro-ministro e ministro do Interior da Itália, embora fosse o chefe de facto do Executivo – responsável na prática por governar e tomar decisões políticas. Entre outras polêmicas, negou a entrada de navios com centenas de imigrantes, tuitou um slogan de Benito Mussolini no aniversário do ditador e, mais tarde, recusou-se a participar da comemoração pelo aniversário da derrota do nazifascismo. Em agosto deste ano, a Liga abandonou a coalizão com o Movimento Cinco Estrelas (M5S) para forçar novas eleições (no sistema parlamentarista, sem maioria, não há governo). No entanto, o M5S se uniu ao Partido Democrático (de centro-esquerda), evitando o processo eleitoral. Salvini, além de ficar sem cargo, distanciou-se de suas pretensões políticas.

Retrato ilustrado de Oleh Tyahnybok

5 – Oleh Tyahnybok

Começou a se destacar durante os protestos conhecidos como Euromaidan, que assolaram a Ucrânia entre o final de 2013 e primeiro semestre de 2014 contra o então presidente Viktor Yanukovytch. Faz parte da “União Pan-Ucraniana”, partido também conhecido como Svoboda (“Liberdade”) e que tem origens ligadas ao nazifascismo. Em um país onde se criminalizou apologias ao comunismo, mas não ao nazismo, Tyahnybok não tem receio em deixar explícita sua admiração por personagens como Stepan Bandera, líder nacionalista ucraniano do século XX, que atuou como colaborador de Hitler durante a ocupação nazista na Ucrânia. Ao contrário de outros líderes neocons, não se acanha em ser antissemita e afirma haver um “plano judaico-russo” para dominação mundial.

Retrato ilustrado de Nikolaos Michaloliákos

6 – Nikolaos Michaloliákos

Fundador do partido grego “Aurora Dourada”, a agremiação desta lista que menos tem qualquer vergonha de demonstrar sua simpatia pelo nazismo, de onde tirou diversas referências na simbologia. Ao contrário de grupos como a Frente Nacional na França, o Aurora Dourada não se preocupou em moderar o discurso e incentiva a violência contra militantes de esquerda, judeus, minorias sexuais e imigrantes muçulmanos ou africanos. O Partido tem elegido parlamentares na Grécia desde 2012 e, apesar de contrário à existência da União Europeia, também tem representantes no Europarlamento desde 2014. Em 2013, após a morte do rapper Pavlos “Killah P” Fissas por um militante do Aurora Dourada, a cúpula do Partido foi indiciada por formação de organização criminosa. Michaloliákos foi preso preventivamente junto a outros membros, tendo a pena mudada para prisão domiciliar em 2015.

Retrato ilustrado de Santiago Abascal

7 – Santiago Abascal

Apesar de descendente direto do antigo guerreiro muçulmano Ab Hascal, o espanhol é um ferrenho opositor do que os neocons chamam de “islamização” da Europa. Defensor de pautas moralistas em relação a temas como drogas, aborto e casamento igualitário, lidera o partido Vox (termo do latim que significa “Voz”), que surpreendeu ao vencer eleições locais na região da Andaluzia, reduto histórico da esquerda na Espanha. No embalo da inesperada conquista, o Vox passou a ter cada vez mais espaço midiático e chegou às nacionais com grandes expectativas que, apesar de frustradas, significaram um crescimento: a legenda foi de zero a 22 cadeiras no Parlamento.

Retrato ilustrado de André Ventura

8 – André Ventura

Conhecido como o “Bolsonaro português”, foi vereador na cidade de Loures, onde travou uma guerra contra os ciganos que lhe valeu um processo por discriminação racial. No caso, havia criticado a imprensa por não terem citado a origem cigana de uma família que agrediu funcionários de um hospital. Já afirmou que Portugal é “tolerante demais com minorias”. Atualmente tenta oficializar seu novo partido, o “Chega” – empreitada que lhe rendeu investigação por fraude em assinaturas.

Retrato ilustrado de Rodrigo Duterte

9 – Rodrigo Duterte

Ex-prefeito da cidade de Davao e ex-deputado, o atual presidente filipino celebrizou-se como “justiceiro” ao pôr em prática uma sangrenta guerra ao narcotráfico que prosseguiu a nível nacional ao ser eleito para chefiar o país. É contra o casamento homossexual porque as Filipinas são o “bastião católico na Ásia”, apesar de já ter atacado a Igreja em outras ocasiões, como quando disse em 2018 que o Vaticano é a “instituição mais hipócrita do mundo”. Acusado de comandar cerca de mil assassinatos como chefe de um esquadrão da morte, mais de 1900 pessoas morreram em sua “guerra às drogas” nos dois primeiros meses de governo. Duterte prometeu acabar com o tráfico de drogas em três meses. Caminha para o quarto ano de mandato e a promessa permanece longe de ser cumprida.

Retrato ilustrado de Boris Johnson

10 – Boris Johnson

Líder do Partido Conservador Unionista (CUP, na sigla em inglês), defende maior rigidez nas regras para aceitação de imigrantes e foi prefeito de Londres entre 2008 e 2016. No mesmo ano em que deixou o cargo, foi nomeado pela então primeira-ministra – Theresa May – como secretário de Estado para Assuntos Externos (correspondente a ministro das Relações Exteriores, no Brasil) e se tornou um dos principais defensores do Brexit, ou seja, da proposta de retirar o Reino Unido da União Europeia. Neste ano, após uma crise política que culminou na renúncia de May, Johnson foi indicado pelo Partido para ser o novo primeiro-ministro. Em agosto, obteve autorização da rainha Elizabeth II para suspender o Parlamento britânico e conseguir aprovar o Brexit sem restrições, medida considerada antidemocrática por opositores e que gerou diversas críticas entre o meio político, a imprensa e a população, com manifestações que acusam Johnson de planejar um golpe. 

Retrato ilustrado de Benjamin Netanyahu

11 – Benjamin Netanyahu

Primeiro-ministro de Israel desde 2009, o líder do partido ultraconservador Likud (“União”, em português) é um dos principais opositores da proposta de criação de um Estado palestino. Em 2014, em ofensiva que resultou em cerca de 2 mil mortos do lado palestino em Gaza (incluindo mais de 500 crianças), seu governo chegou a bombardear um hospital da ONU, ação que matou quatro pessoas e deixou 16 feridas. Chamado de genocida por opositores, em 2015 se recusou a entregar soldados e oficiais israelenses investigados por crimes de guerra ao Tribunal Penal Internacional. Em fevereiro deste ano, foi indiciado por corrupção e fraude após suspeitas de beneficiar empresários com favores em troca de propina. Em abril, foi eleito mais uma vez para o cargo de primeiro-ministro, mas não conseguiu formar maioria no Parlamento. Novas eleições foram marcadas para 17 de setembro. A principal promessa de Netanyahu é que, se eleito, avançará militarmente sobre a Cisjordânia.

Norberto Liberator

Jornalista, ilustrador e quadrinista. Interessado em política, meio ambiente e artes. Autor da graphic novel “Diasporados”.

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