Muito obrigado, Lionel Messi!

Em uma cobertura jornalística, nunca fui tão bem recebido; muito obrigado, Lionel Messi; graças a você, me senti em família

Texto por Gabriel Neri
Arte por Norberto Liberator

O silêncio antes do pênalti de Gonzalo Montiel que se espalhou nas ruas de Buenos Aires tiveram como som seguinte o maior grito em 36 anos na Argentina. Finalmente, acabou o jejum de Mundiais, que começou na Itália em 1990. A Seleção Argentina, comandada por dois ‘Lionéis’, o Messi e o Scaloni, saiu campeã. A final não tinha como ser mais dramática e melhor. Quando o destino pareceria ser albiceleste, os azuis franceses empatavam. E salimos campeones.

Eu não poderia estar em um lugar melhor. Morando em Campo Grande, vivi as três horas da partida na casa de um argentino. Sofri com eles, cantei com eles, chorei com eles. Argentinos, brasileiros, paraguaios e venezuelanos. Todos juntos. Nunca imaginei que o sentido de assistir à Copa em família viria com quem não é parente de sangue, mas de alma. 

Estava em um ‘paraíso’ no bairro Buriti. Bandeiras para todo lado, muitas pessoas uniformizadas, mística, fumaça, cantoria, cerveja, churrasco e o coração. Uma recompensa, para quem sempre foi do contra, foi ser campeão do mundo com quem realmente torcia comigo. No final, um tal de Ramón Galeano me abraçou e disse: “você deu sorte”.

Comecei a ter um sentimento pela Seleção Argentina por causa das cores. Cruzeirense, o azul e branco sempre fez parte da minha vida. O verde e amarelo, não. Em 2014, o plantel argentino chegou a final da Copa do Brasil perdeu para a Alemanha. Em 2015 e 2016, mais duas finais. Ambas perdidas para a melhor geração chilena da história. Messi se despediu da Seleção e voltou. 

O tempo passou e “las finales que perdimos cuántos años las lloré. Pero eso se terminó, porque em Maracaná…”. Foi o que cantaram os argentinos no Catar nas sete partidas até o título mundial. Antes, dois eventos marcam e forjam a força de guerreiro deste time.

O primeiro é a morte de Diego Maradona em novembro de 2020. Com 60 anos, o pibe de Fiorito nos deixou. Dali em diante, do céu, ele guiou o time. A primeira competição póstuma foi a Copa América. Argentina e Colômbia, sedes iniciais, não quiseram sediar. O Brasil ‘adotou’ a competição mais antiga de seleções em meio à pandemia e com todas as controvérsias possíveis.

No Maracanazo argentino, Messi saiu campeão. Jogaram por Lionel, que jogou pelos demais. O grito de alívio veio para quem sempre foi tão cobrado. Para além da conquista, impediu o uso oportunista, por parte de Jair Bolsonaro, de um eventual título brasileiro. O argumento de que ele não tinha título com a Argentina caiu por terra. Veio a Finalíssima – competição entre os vencedores da Copa América e Eurocopa – e baile para cima da Itália. 

Faltava um título para coroar a maior carreira de um jogador argentino, a Copa do Mundo. E foi o melhor Mundial de Messi. O camisa 10 fez gol em todas as fases: sete nos sete jogos. Marcou na derrota histórica para Arábia Saudita, vitória contra México, Austrália, Holanda, Croácia e França. Só a Polônia não foi vazada pelo 10. Tudo isso o credenciou para ser novamente o melhor da Copa. ‘Ojalá’ que diferente de 2014, agora campeão.

Em uma cobertura jornalística, nunca fui tão bem recebido. Muito obrigado, Lionel Messi; graças a você, me senti em família. Na final da Copa América, eu comemorei sozinho. Desta vez, estava com o coração cheio. Fui com a mesma camisa alusiva à azul de 1986. Também tinha a braçadeira de capitão. Senti que seria campeão em 2021 e agora em 2022. 

Ao longo da Copa, em especial nos primeiros momentos, eu me senti sozinho. Parecia que era só eu o “errado em torcer pela Argentina”. O Brasil caiu e o time de Messi seguiu. Na final, eu me senti acolhido como nunca estive com esta camisa. Salimos campeones. Copamos.

Gabriel Neri

Estudante de jornalismo, amante de futebol sul-americano e da América Latina.

Norberto Liberator

Jornalista, ilustrador e quadrinista. Interessado em política, meio ambiente, artes e esportes.

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