Finalmente é 20 de novembro – mas e o restante do ano?

Novembro é um mês de gente preta ganhar título e honraria em Câmara Municipal, dar entrevista em emissora de TV, e de propaganda de marca famosa direcionada para pessoas pretas; mas quando chega dezembro, o Brasil volta ao normal

Por Felipe Lourenço
Arte por Norberto Liberator

Finalmente é dia 20 de novembro. Dia da Consciência Negra, Semana da Consciência Negra, Mês da Consciência Negra. Mas parece que é difícil demais manter essa consciência por um todo: é como se ao entrarmos no mês de novembro, o restante da sociedade fosse negra. As entidades, as instituições, as empresas voltam seus olhares para  as pessoas pretas com alguma importância, na semana que antecede a data.

Neste período, ocorre o que eu costumo chamar de “Vamos mostrar que somos inclusivos”. Os veículos de comunicação, jornais, programas de TV, revistas começam a se desdobrar para encontrar entrevistados – é de se esperar que seja difícil nos encontrar para sermos “exaltados”. Imagine que você tem um objeto que só usa uma vez por ano e, depois de usá-lo, você o guarda de volta, mas ao longo do ano, coloca vários outros objetos em cima dele; então, no ano seguinte, quando precisa dele novamente, já nem sabe mais onde deixou, mas sabe que ele está lá, em algum lugar, trancado, esquecido, numa caixa velha num quarto escuro.

Novembro é um mês de gente preta ganhar título e honraria em Câmara Municipal, dar entrevista em emissora de TV, e de propaganda de marca famosa direcionada para pessoas pretas.  Mas quando chega dezembro, o Brasil volta ao normal. Nós voltamos a ser invisibilizados, nosso trabalho ainda continua a valer menos, nossa arte ainda é desprivilegiada e nossos corpos continuam a ser explorados. 

Culturalmente, este país é formado pelos povos originários e pelo povo negro. Relegar a nossa verdadeira importância nesta sociedade apenas ao mês da Consciência Negra, mesmo que pareça o contrário, é continuar a nos colocar à margem da história.

Felipe Lourenço

Músico, ator, roteirista, produtor, agente cultural, karateca e Doutor Honoris Causa.

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