EUA e Talibã: um caso de amor mal resolvido

Maior potência global e grupo fundamentalista que voltou a controlar o Afeganistão já tiveram relações bastante amistosas

Texto por Norberto Liberator
Arte por Marina Duarte

Naquele 22 de agosto de 1998, a Casa Branca recebeu uma ligação inusitada. O oficial Michael E. Malinowski, responsável pelas Relações com Bangladesh, Paquistão e Afeganistão, ficou encarregado de atendê-la. Tratava-se de um chefe de Estado. Era Mullah Omar, o misterioso líder do Talibã, que governava o Afeganistão havia cerca de dois anos. O aliado de ocasião tinha um pedido a fazer.
Naquela época, o governo de Bill Clinton bombardeava bases de treinamento da Al Qaeda em solo afegão, em busca de Osama Bin Laden, tido como responsável por ataques às embaixadas estadunidenses do Quênia e da Tanzânia. Omar disse a Malinowski: [Balão Omar] Os ataques só incitarão um sentimento anti-americano no mundo islâmico e aumentarão o terrorismo. Peço ao presidente Clinton que pare.
Omar teve seu pedido atendido e a Operação “Risco Infinito” cessou. Suas relações com os Estados Unidos não eram exatamente próximas, mas havia cordialidade, afinal, “era ele ou os comunas”. Foi graças ao treinamento e armamento recebido de Washington, entre as décadas de 1970 e 1990, que o Talibã chegou ao poder.
O Afeganistão viveu sob governo dos comunistas desde a Revolução de Saur, que derrubou o presidente pró-Ocidente Daoud Khan, em 1978. Os chamados mujahedin, guerrilheiros de orientação fundamentalista islâmica, reagiram e começaram a combater o novo governo, que tinha apoio soviético. A administração de Jimmi Carter passou a financiar os mujahedin em sua luta anticomunista, em 1979.
Foram proibidos o uso de roupas ocidentais, o jogo de xadrez, a música não religiosa, os brinquedos, as pipas, as bebidas alcoólicas, o cigarro, a raspagem de barba e a televisão, entre outros itens. As mulheres foram proibidas de sair de casa sozinhas e ir à escola, além de serem obrigadas a cobrir o corpo inteiro.
As relações entre os Estados Unidos e o Talibã só foram rompidas de vez em 2001, quando George W. Bush iniciou sua desastrosa “guerra ao terror” em retaliação aos ataques de 11 de setembro daquele ano. O grupo foi acusado de dar asilo a Osama Bin Laden, mentor confesso dos atentados.
O Talibã bateu em retirada, mas continuou na ativa se financiando sobretudo pelo tráfico de ópio até que 20 anos depois, com a retirada de tropas internacionais, conseguiu retomar Cabul. À imprensa internacional, as lideranças prometem moderação, enquanto reprimem manifestações violentamente. Pânico e aflição tomam conta de uma população deixada à própria sorte pela potência que, um dia, ajudou uma milícia fundamentalista a tomar o poder.

MARINA DUARTE

Ilustradora e quadrinista pantaneira. Feminista antiproibicionista interessada pela profunda mudança social.

Norberto Liberator

Jornalista, ilustrador e quadrinista. Interessado em política, meio ambiente, artes e esportes.

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