Alanys Matheusa, presente!

Por Marina Duarte
Colaborou Norberto Liberator

Transativista, militante do movimento preto, advogada – a primeira trans negra a se formar em direito no Mato Grosso do Sul -, pesquisadora, artista, militante. Muitas funções, nomes e lutas caracterizam e contam a história de Alanys Matheusa. A advogada faleceu no dia 14 de abril de 2020, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

Alanys era o nome que queria pôr na sua filha; Matheusa é a flexão do nome “morto” (pré-transição) e também tem relação com a luta, já que faz referência à trans não-binária Matheusa Passarelli, assassinada em abril de 2018 no Rio de Janeiro. O nome estava completo, mas Alanys Matheusa já se sobressaía bem antes de se reconhecer transgênero: era destaque no curso – que terminou na condição de única negra da turma -, pesquisava e era referência dentro da militância.

Da quebrada para o Ministério Público: Alanys era filha de empregada doméstica, moradora do Guanandi, bairro da zona Sul de Campo Grande (MS) e ocupava espaço na igreja do bairro, onde cantava e participava ativamente, até sua transição . Seu lado artístico e ousado sempre existiu. 

Era firme em seus propósitos e lutava pelo que queria – em todos os âmbitos. Não podia ser diferente: conquistou bolsa no curso de Direito na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), onde exerceu atividades de monitoria, além de acumular bolsas de permanência e de pesquisa. Ao fim do curso, passou para estágio no Ministério Público Federal (MPF) e, quando terminou, já havia passado na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Alanys já estava pronta há tempos para atuar e avisava: era juíza federal em formação, estava só começando.

Além de estar inserida em um contexto tão cheio de convenções e regras como é o Direito, Alanys se destacava também dentro da militância: envolveu-se com pautas como os movimentos negro, LGBT, de gênero, anticapitalista e funk. Na luta, Alanys se encontrou: dava inúmeras entrevistas, palestras e era tida como referência no meio.

Incomodava – e muito. E esse era o objetivo, já que ela sabia como a sociedade a via: “todo mundo gosta de travesti na esquina, não na universidade”, dizia e fazia questão de mostrar a que veio, de desmistificar e afrontar. Sua história ficará marcada na forma do legado que em tão pouca idade conseguiu deixar, graças à sua rebeldia, inteligência, amizade e coerência. Alanys partiu fisicamente, mas sua história é motivo de inspiração aos que continuam a luta por aqui.

Alanys Matheusa, PRESENTE!

As falas foram retiradas da entrevista de Alanys Matheusa ao The Intercept Brasil realizada no dia 5 de setembro de 2019.

MARINA DUARTE

produtora-executiva

Ilustradora, acadêmica de psicopedagogia, estudou jornalismo. Militante feminista interessada na profunda transformação social.

Norberto Liberator

Editor-chefe

Jornalista, ilustrador e cartunista. Interessado em política, meio ambiente e artes. Autor da graphic novel “Diasporados”.

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