O problema? Flamengo!

Texto: Alison Silva

Ilustração: Fábio Faria

Será que o mais otimista dos flamenguistas imaginava um cinco a zero na noite de quarta-feira? – Acho que não! Muito por conta da equipe adversária. O Grêmio, tricampeão da América, foi a última equipe brasileira a vencer o torneio – em 2017 –, sendo pelo menos semifinalista da competição nos últimos três anos. Jogo grande!

Após observar a imponência do Flamengo mesmo fora de casa na partida de ida, Renato Gaúcho, técnico gremista, decidiu que sua equipe jogaria diferente no Maracanã. Realizou algumas declarações públicas sobre seu time a fim de desestabilizar a ótima equipe rubro-negra, como ao dizer que “o Grêmio joga o melhor futebol do Brasil”, provocando o técnico Jorge Jesus e a equipe adversária, ao longo dos dias que antecederam o confronto. Renato reconhecia a dificuldade do duelo e, agora, a equipe carioca era quem contaria com o apoio massivo de sua torcida.

O Grêmio de Renato precisava se movimentar, fazer diferente. O lateral Rafael Galhardo deu lugar ao zagueiro Paulo Miranda, que por sua vez se juntou à dupla Geromel-Kannemann, na tentativa de fortalecer o sistema de defesa do time gaúcho. Michel e Matheus Henrique jogavam à frente dos zagueiros como suporte defensivo. Maicon tinha certa liberdade no meio, mas preocupava-se em muitos momentos com a recomposição gaúcha, principalmente na primeira etapa de jogo.  À frente da equipe, Everton Cebolinha e Alisson atentavam-se muito mais às descidas dos laterais do Flamengo do que se preocupavam em atacar; sendo assim, restou a André lutar pelas poucas bolas que mal chegavam a seus pés, quando chegavam ao ataque.

Durante quase toda a primeira etapa, o “3-4-3” gremista em muitos momentos se tornava 3-6-1, por conta da recomposição de Cebolinha e Alisson pelas laterais do campo. O esquema funcionava. No entanto, no fim do primeiro tempo o vertical e pragmático Flamengo conseguiu quebrar a linha defensiva adversária. Bruno Henrique conduziu a bola até a entrada da área; serviu Gabigol, que finalizou com a perna direita “fraca”; Paulo Victor soltou e o próprio Bruno Henrique conferiu a bola para o fundo das redes. Gol rubro-negro. Nesse momento o Grêmio, que mal chegava ao ataque, precisava de dois gols para ir à final da competição. Dura e árdua missão.

Agora, restando apenas 45 minutos de partida, o Grêmio, que muito pouco agredia a equipe do Flamengo, precisava marcar duas vezes para voltar à final da Libertadores. Para isso, era necessário que a equipe gaúcha abdicasse de alguma coisa.

Ilustração mostra Gabigol com uniforme do Flamengo, comemorando gol com gesto de exibição de músculos.

 

Instintivamente, os jogadores do clube gaúcho que precisavam marcar se lançaram ao ataque, desprendendo-se assim do único movimento positivo que a equipe apresentava até então: a solidez defensiva. Além disso, outros dois fatores contribuíram para o que aconteceria dali em diante: a má atuação do goleiro Paulo Victor e a fragilidade gremista na bola aérea defensiva.

Apesar do ótimo elenco e das credenciais apresentadas pela equipe gaúcha ao longo desses últimos anos, do outro lado havia uma equipe muito convicta de seus objetivos e ambições. Um Flamengo que respeita seus adversários jogando muita bola, que busca o gol a todo o momento, flexível, compacto, e que conta com uma dupla de atacantes letais à frente.

Muito das construções ofensivas do time do Flamengo nesta temporada passam pelos pés da dupla Bruno Henrique e Gabigol. Dos 116 gols marcados pelos rubro-negros no ano, 51% saíram dos pés da dupla. Se ampliarmos o leque para os gols em que eles efetivamente participaram, seja marcando ou com assistências, o número sobe para cerca de 70 gols, aproximadamente 60% dos gols do Flamengo em 2019.

Bruno Henrique e Gabriel, somados, agora contabilizam 12 gols pela Libertadores. Gabigol tem 35 gols no ano, além de ter sido o vice-artilheiro do Campeonato Carioca no início do ano com sete gols, um a menos que seu companheiro de ataque. Além dos ótimos números dos atacantes, o futebol entregue pelos demais atletas impressiona. Fora de campo, o apoio principalmente do departamento médico do clube carioca, que conseguiu recuperar os então lesionados Rafinha e Arrascaeta para a partida, é notório. 

Vale ressaltar que tanto Gabigol quanto Bruno Henrique chegaram à equipe este ano, assim como outros cinco titulares do time no jogo de ontem; o zagueiro Pablo Marí, os laterais Rafinha e Filipe Luís, o volante/meia Gérson e o também meio-campista Giorgian De Arrascaeta. Não bastasse toda esta renovação no elenco, o comandante da equipe também é recém-chegado na Gávea. O importado treinador português Jorge Jesus chegou este ano ao Flamengo, e muito do futebol apresentado pelo clube passa por seus cuidados.

Voltemos à partida. Iniciada a segunda etapa, a relativa efetividade defensiva da equipe gaúcha começou a sucumbir ao ótimo futebol apresentado pelo Flamengo. E como joga, esse Flamengo! Durante 25 minutos do segundo tempo, apagão gremista! Quatro gols do clube carioca. A competitiva equipe do Grêmio se viu de mãos atadas diante do futebol rubro-negro. Além da capacidade do time de JJ, as falhas da equipe gremista contribuíram para o elástico placar final.

Logo no início do segundo tempo, bola levantada na área gremista, falha defensiva, gol de Gabriel. Aos 11 da etapa final, pênalti em Gabigol, que bateu e converteu. Por fim, a dupla de zaga Marí e Rodrigo Caio marcou em outras duas bolas alçadas na área gremista. Ainda restavam quase 20 minutos de jogo, além dos acréscimos, e se via muito de um Flamengo ofensivo, querendo mais, ao contrário do apático time do Grêmio, que nada podia fazer diante das circunstâncias.

Fim de jogo. Flamengo 5×0 Grêmio, e após 38 anos a maior torcida do País volta a empurrar o Flamengo em mais uma final intercontinental. O adversário é o atual campeão da competição, River Plate, que coleciona quatro títulos do torneio. Equipe muito qualificada, jogo grande. Os argentinos que se cuidem, porque este Flamengo é muito competente, focado, e vem muito forte a fim de coroar seu belíssimo trabalho.

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