Marx e a luta antimanicomial

Por Vitória Regina Correia

Hoje, 18 de maio, é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Nesta data, reafirmamos o compromisso com práticas de cuidado em saúde mental pautadas na liberdade, no reconhecimento da singularidade dos sujeitos e na superação das formas de exclusão que marcam a história da loucura.

Neste contexto, resgatamos um breve texto de Karl Marx, publicado em 1858 no New York Daily Tribune, onde ele analisa o crescimento dos casos de loucura na Grã-Bretanha. Embora não fosse um estudioso da loucura, Marx oferece reflexões que nos ajudam a compreendê-la não como um fenômeno natural ou biológico, mas como uma resposta socialmente produzida às contradições da vida em sociedade sob o capitalismo.

Ao observar o crescimento da população internada em instituições asilares, Marx associa esse dado à intensificação das dinâmicas econômicas de exploração e desigualdade. A loucura aparece aqui como expressão das pressões, rupturas e desamparos gerados por uma ordem social fundada na mercantilização da vida e na alienação do trabalho.

Marx também denuncia as condições precárias dos manicômios, questionando tanto a insuficiência dos recursos públicos quanto os abusos presentes nas instituições privadas. Sua crítica antecipa, em certa medida, debates que se tornaram centrais a partir do século XX, como a oposição às formas coercitivas de tratamento e à medicalização da existência.

Esse artigo ajuda a entender como o manicômio funciona enquanto instrumento de exclusão e controle, reproduzindo a lógica de um sistema que marginaliza os que não se enquadram na norma. A institucionalização da loucura, longe de representar cuidado, revela uma tentativa de silenciar e segregar aquilo que escapa à normatividade da racionalidade capitalista.

Assim, o manicômio não é apenas um espaço físico, mas um dispositivo que reproduz a lógica de uma sociedade que se organiza a partir da exclusão e da objetificação do outro. Relembrar esse escrito neste 18 de maio é afirmar que a luta antimanicomial também é uma luta por outra forma de sociabilidade — uma sociedade onde o cuidado caminhe junto com a liberdade, a dignidade e a escuta do sofrimento humano em sua dimensão histórica e social.

Para ler o texto de Marx, clique aqui.

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